Meus versos,
Meus unguentos...



quarta-feira, 5 de maio de 2010

Destino

Eu vi o Bem e o Mal se beijando numa noite de eclipse total. Não traziam cartas na manga, nem rosa branca na mão. Nem punhal. O Bem não quis matar o mal pela raiz. O Mal nem se importava, se no final, o Bem fosse feliz. O Bem com suas poesias. O Mal com suas prosas. Atracaram-se impávidos.

O Bem com suas luzes. O Mal com seus fantasmas. O Bem não aspirava em ser rei, nem o mal cogitava em governar. Entregaram-se. Como dois amantes naquela noite insana, trocaram olhares e carícias na ânsia de se completar. Riram e falaram besteira até o dia clarear.

De manhãzinha, embevecidos de amor, encontraram com a inveja que vinha a cavalo da bebedeira. E também com uma virtude que saía para rezar. Ouviram risos, cochichos, grito de protesto: _isso é um caso infame, impossível de aceitar.

Então, aturdidos recolheram suas roupas. Fugiram nus. Envergonhados em meio a neblina daquela manhã fria. Nunca mais conversaram. E tudo voltou como era sempre, como era certo. Cada qual no seu lugar.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Passageira

dançando no vento - Martha Barros

(essa já virou música, fico mais tranquilo)

Ah, vida ligeira!
rola no tempo,
água sem prumo,
cachoeira.

Ah, vida ligeira!
vai como o vento,
água sem rumo,
rio sem beira.

Zaz de copo d'agua,
triz de brincadeira,
a vida passa correndo,
êta vida passageira.

Po isso quero mais mimo,
quero asas e arrimo,
quero a polpa e o sumo
se não sei do meu destino.

Quero verso e reverso,
sextas, sábados, domingos.
Um amor só pra consumo,
dos dias longos e lindos.

Pois cansada a vida para,
rio vira represa,
onde navegam lembranças,
repousam esperanças,
e naufragam-se certezas.

O que cabe no pensamento

O pensamento revira o tempo,
revira tudo o que passou.
O que não cabe no pensamento, é esquecimento,
vida que não vingou.

(galeriaaberta.com/eduardo patarrão)

Motivo

(fonte inspiradora: Cecília Meireles)

A canção aflita me acena
com suas asas esbodegadas.
Por isso canto,
porque ilusão também é vida
e nada que existe me completa.
Canto porque o instante necessita
e sou tão alegre quanto triste.
Serei poeta?

Onde mora o Amor

(letra na esperança de ser um samba)

Quem sabe do amor, namora.
Quem não sabe sai à procura.
A noite é a casa da aurora,
A casa do amor é a aventura.

O rio é a casa da água,
Da mágua, o coração.
Amor em qualquer canto deságua,
Numa flor ou numa canção.
Em qualquer canto mora o amor,
Num palácio ou num barracão,
Mas debaixo de sete chaves
O amor mora mais não.

A casa da água é o rio,
Do frio, a solidão.
Quem tranca o amor no peito
Faz o ninho perfeito para desilusão.
Mas quem traz o amor para o leito
Navega sem saber direito
Onde vai dar a embarcação.