O tempo carente
menino manhoso
se agarra na gente insistentemente
o tempo faz birra
mas ele não sabe
que para sempre ele amanhece
e a gente anoitece eternamente
Talvez eu não seja poeta
Talvez eu só traga uma seta
Cravada no peito que espeta
Quando a vida é curta E a alegria é pouca Quando busco uma reta na estrada torta
Talvez eu não seja poeta
Só traga no peito cravada uma faca
Que dilacera
Quando abro a janela
E a natureza é morta
Quando o grito é frágil
E a justiça é surda
Talvez eu não seja poeta
Só traga no peito uma ferida aberta
Que aperta
Quando a ilusão me visita
Quando a palavra exata escapa
E jamais é escrita
Talvez eu só seja um romântico
nesses dias de luta
com um gemido discreto
atado à garganta E um grito lunático
Que ninguém escuta.
Sina de cigarra é nascer na escala musical. Sinfonia de guitarras, sanfona, flautas, algazarra, aquecer a voz no sol. Sair pruma seresta, cantar durande a sesta, fazer festa no canavial. Depois de um dia quente, de cantar ardentemente, um vôo sideral no milharal. Enquanto primavera, compor uma canção, com flores bem singelas para explodir no verão.
Marta Barros
Borboleta voa lenta inventa letra, escreve o vento e quando cisma escreve a brisa faz soneto faz poema ... ...A borboleta com letra de professora primária
escreve a primavera escreve a tarde com outras letras feito chuva colorida mas escreve a vida breve com a letra mais bonita.
Passarinho vai ligeiro brinca, cisca, no terreiro enche a algibeira de fubá. Depois vai pro abacateiro, que a tarde dorme no poleiro, quando escuta o seu cantar. Assanhaço assanha o cisco Azulão zanza arisco com o Pardal lá pras banda do curral. Sabiá seresteiro faz ciranda e assobia Depois some na mata Levando no peito o dia.
O pintassilgo silva até ensurdecer a tarde, recita versos, soletra frases, solfeja, solfeja e nem se cansa. Salta de galho em galho com seu fino terno e um cachecol de agasalho. O pintassilgo e seu filho pintagol, pintam o céu de amarelo e anil. O pintassigo silva quando nasce o sol até esmorecer o azul, depois dorme em silêncio, descansa o bico, não solta um pio. Só pia em pensamento, em algum momento, sonhando a lição, e só solta um silvo, quando o escuro esquece e deixa cair do bolso um cisco de sol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário